Nossas crianças estão mesmo mais hiperativas? Diagnósticos de TDAH sobem todos os anos, no Brasil e no mundo

Nossas crianças estão mesmo mais hiperativas? Diagnósticos de TDAH sobem todos os anos, no Brasil e no mundo

Por: Marcia Belmiro | Crianças | 13 de agosto de 2019

Em 1978, a American Psychiatric Association catalogou o TDAH como um transtorno. Por sua natureza multifatorial, o diagnóstico sempre foi controverso. De acordo com a Associação Brasileira do Déficit de Atenção, “é um transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que aparece na infância e frequentemente acompanha o indivíduo por toda a sua vida. Ele se caracteriza por sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade”. Segundo a entidade, ocorre em 3% a 5% das crianças (“na vida adulta, os sintomas de inquietude são mais brandos”). No entanto, a porcentagem de diagnóstico de TDAH é bem maior, e apresenta tendência de crescimento. No Brasil, os índices alcançam até 26,8%, de acordo com pesquisa da Anvisa em 2013.

A praxe, quando há o diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção, é a prescrição de remédios que aumentam a disciplina e a concentração das crianças hiperativas. No Brasil, o mais comum é a Ritalina, um dopaminérgico. No artigo “TDAH e Ritalina: neuronarrativas em uma comunidade virtual da Rede Social Facebook”, Fernanda Martinhago contabiliza que em países fora dos Estados Unidos, o uso mundial de Ritalina em 2007 era de 17%, passando para 34% em 2012 (naquele país, a medicação mais consumida para tratar o TDAH é o Aderall, da classe das anfetaminas).

Segundo a Anvisa, entre 2009 e 2011, o consumo do metilfenidato (princípio ativo da Ritalina) aumentou 75% entre crianças e adolescentes na faixa dos 6 aos 16 anos. Especificamente em São Paulo, um estudo feito pelo Núcleo de Farmacovigilância Sanitária da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo constatou que, de 2009 a 2011, o consumo do medicamento cresceu 164%, tendo redução no período das férias e aumento no segundo semestre do ano letivo. De junho de 2011 a junho de 2015, o crescimento foi de 25%, de acordo com o IMS Health (todos os dados são relativos a vendas registradas, o que sugere que o número real seja ainda maior).

O filósofo alemão Christoph Türcke, no livro Hiperativos!, apresenta a tese de que há uma “cultura do déficit de atenção”, atuando, especialmente, na relação exagerada entre crianças e celulares, computadores, tablets e demais telas. Em resumo, Türcke aponta: “O ‘choque da imagem’ [expressão cunhada por Walter Benjamin] se tornou o foco de um regime global de atenção, que insensibiliza a atenção humana por meio da sobrecarga ininterrupta. […] O que começou como ‘efeito de choque do cinema’ há tempos se transformou em regime de atenção do conjunto da sociedade. Nesse regime crescem hoje as crianças desde o nascimento. Sob ele, elas montam seus cérebros. […] Não foi a pesquisa a inventar o TDAH. […] Não é errado falar em transtorno. Mas defender que o TDAH é uma doença […] é menosprezível […], sendo distúrbio cerebral apenas enquanto distúrbio cultural. […] O TDAH não é simplesmente uma doença em um ambiente saudável. Ao contrário: só quando já existe uma cultura do déficit de atenção é que existe TDAH.”

Para tratar essa disfunção, Türcke sugere uma mudança profunda de comportamento na sociedade, denominada por ele de “Estudos Rituais”. A ideia é substituir o excesso de horas de telas por brincadeiras de roda, refeições em família e todo tipo de atividades realizadas em conjunto, com conexão verdadeira entre as pessoas. O filósofo explica: “Só é possível aprendê-la [a atenção] em comunidade. Mais ainda: somente pela atenção é que se aprende a comunidade especificamente humana.”

Os resultados do coaching em crianças apontam para a mesma direção. Nota-se que as crianças diagnosticadas com TDAH que são atendidas por profissionais de saúde e concomitantemente por um KidCoachee têm resultados mais rápidos e efetivos. Isso ocorre porque, ao olhar com atenção a rotina da criança e do sistema familiar com um todo, aumenta a resposta ao tratamento em relação às dificuldades de aprendizado e aos demais sintomas apresentados. Lembrando que o Kids Coaching não trata, tampouco cura. Esta função é e sempre foi dos profissionais de saúde.

 

 

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