Criar filhos com gentileza no “mundo cão” dá certo?

Criar filhos com gentileza no “mundo cão” dá certo?

Por: Marcia Belmiro | Crianças | 04 de dezembro de 2019

Fala-se muito sobre “criar os filhos para o mundo”, mas o que exatamente isso significa? Alguns pais e mães entendem que, como na lei de talião, devemos ensinar as crianças a devolver na mesma moeda as agressões que recebem. Acontece que se resolvermos os problemas na base do olho por olho… todos acabarão cegos.

Omitir-se, por outro lado, é mais uma forma de violência, como disse Marshall Rosenberg, o criador da comunicação não violenta. Será que só existem essas duas possibilidades ou dá para encontrar o caminho do meio?

Ensinar seu filho a se defender do “mundo cão” está muito além de matriculá-lo na aula de artes marciais esperando que ele “não apanhe na rua, ou vai apanhar em dobro em casa”, como já ouvimos tantas vezes. É ser “a mudança que você quer ver no mundo”, como disse Gandhi.

 

A importância do autoconhecimento e do amor-próprio

Preparar uma criança para o mundo é estimulá-la a ouvir com empatia, a desenvolver a capacidade de argumentar e se posicionar diante das situações difíceis, de maneira firme, mas com generosidade, gentileza, sinceridade e com respeito ao outro e a si próprio.

Fortalecer seu filho para as adversidades da vida é fortalecê-lo emocionalmente, e isso é o oposto de ele crescer e ser um “homem que não chora” ou uma “pessoa sempre de bem com a vida”. Isso, em geral, acontece com quem teve suas dores silenciadas na infância, com quem aprendeu que não devia sentir o que sentia, e que um dia de fato deixou de sentir, ou pelo menos guardou seus sentimentos num lugar tão profundo de si mesmo que não sabe mais onde estão.

Essas pessoas, ao contrário do que pensamos, são as mais frágeis, pois têm medos e inseguranças não resolvidos. O “casca-grossa” é, na verdade, o telhado de vidro, que quebra a cada adversidade, pois não tem recursos emocionais para se proteger.
Quando mostramos nossos filhos que o que eles sentem é válido, então poderão vivenciar suas dores e a partir daí resolvê-las, sempre contando com seu porto seguro, que são os pais. Isso não é superproteger – superproteger é evitar que se frustrem –, mas sim proteger, que é mostrar a eles que não precisam passar pelas frustrações sozinhos.

Como resultado, essas crianças não vão “apanhar na vida”, mas saberão que quando o colega da escola faz bullying (ou, na idade adulta, o chefe o assedia), isso não diz respeito a si, mas aos outros. E, então, podem seguir em frente, fortalecidos em seu escudo de autoconhecimento e amor-próprio.

                      

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