A síndrome da péssima mãe

A síndrome da péssima mãe

Por: Marcia Belmiro | Crianças | 15 de janeiro de 2020

Recentemente uma imagem do que seria o cérebro de uma mãe rodou as redes sociais. Ao lado da figura, diversas frases representavam os pensamentos maternos:

“É minha culpa?” ;“Devíamos organizar uma festa.”; “Quanto isso custa?”; “Precisamos de uma noite romântica.”; “Estou fazendo a coisa certa?”; “Eu deveria praticar o autocuidado.”; “Isso é bom para o desenvolvimento?”; “Férias em família criam memórias.”; “Estou sendo justa?”; “Preciso de tempo para mim mesma.”; “Como posso lidar com isso?”; “Atividades extracurriculares são boas para as crianças.”; “Estou cometendo um erro?”; “Preciso de um hobby só meu.”; “Estou fazendo o suficiente?”; “Sinto falta dos meus amigos.”; “Como posso fazer melhor?”; “Preciso dormir.”; “Por que eles crescem tão rápido?”; “Filhos custam caro.”

Essa imagem foi compartilhada incessantemente nos grupos de mães mundo afora, confirmando o que toda mulher que tem filhos sabe: seu cérebro não para. E um detalhe: em meio a tantas cobranças – internas e externas – não sobra tempo para pensar no que aconteceu de bom, em todas as suas conquistas, na mulher incrível que ela é. Esse sentimento de constante inadequação já tem até nome: síndrome da péssima mãe.

As mulheres-mães da sociedade atual se sentem pressionadas a dar conta das necessidades dos filhos, do companheiro e de si próprias, sem esquecer de que precisam se manter atléticas, bem informadas, felizes, plenas. Um objetivo digno da trilogia “Missão: impossível”, mas sem os efeitos especiais de Hollywood.

O resultado é, invariavelmente, frustrante. Essa decepção consigo mesma carrega culpa – por não sentir o amor incondicional que ela ouviu que sentiria, por em alguns dias estar tão cansada que não consegue aproveitar os momentos com as pessoas mais importantes para si, por às vezes ter raiva do filho.

Sobre isso, Marcia Belmiro analisa: “Quando sentir culpa fizer alguém ser uma mãe melhor, serei a primeira a apoiar. No entanto, o que vemos é que a mãe perde tempo alimentando a culpa por não ser a mãe perfeita, e isso a afasta cada vez mais da melhor mãe que pode ser. Ao contrário do que diz o senso comum, o instinto materno não existe, a conexão mãe-filho não é óbvia. Ao contrário, é uma relação que se desenvolve com o tempo, desde que a mulher tenha tranquilidade para se dedicar ao filho.”

O pediatra e psicanalista D. W. Winnicott postulou o conceito da mãe suficientemente boa, que vai na contramão dessa concepção idealizada da maternidade: “O ser humano é imperfeito, e espera-se que seja imperfeito na criação dos filhos. Esse ser humano imperfeito é incapaz de realizar todos os desejos da sua criança ou de cumprir os ideais de mãe que são impostos socialmente. Ter essa clareza fará com que se constitua uma personalidade da criança mais ajustada, com capacidade de lidar com as frustrações do mundo. O fato de a criança se frustrar com alguém que a ama (a mãe, no caso) dá a ela condições de entender que a frustração não é obrigatoriamente destrutiva, o que a prepara para o mundo. E compreender isso é libertador”, analisa Marcia Belmiro.

Fonte:

Serie: Primeiros anos de vida – Desenvolvimento do Bebe – 1º episódio: https://youtu.be/MDGQG-lpf3g 

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